sábado, 8 de janeiro de 2011

"Mr. Sandman"




“Mister Sandman, bring me a dream
(Bung, bung, bung, bung)
Make him the cutest that I've ever seen
(Bung, bung, bung, bung)
Give him two lips like roses in clover
Then tell him that his lonesome nights are over”

Todas as noites, antes de se deixar levar por um sono profundo, recitava para si esta música, como uma prece e recordava a primeira vez que a tinha ouvido. A sua mente viaja para uma noite de Verão de à uns anos atrás.
Recorda como as amigas a tinham deixado pendurada e de como foi sozinha para a noite. O bar onde entrou tinha muito movimento, um bom ambiente, boa clientela, mas tudo isso é um borrão nas suas memórias; só se recorda dele. Do blusão de ganga sem mangas exibindo dois braços que mais pareciam troncos de árvore, da maciça fivela prateada na forma de uma cabeça dum urso, da barba robusta mas bem aparada e do seus grandes olhos castanhos e daquele sorriso fácil.
Conversaram a noite toda, cada vez mais animados pelas bebidas que lhes iam chegando às mãos. Mais tarde, ele ofereceu-se para a levar a casa e ela aceitou.
Lembra-se de como a carrinha chocalhava por todos os lados a cada centímetro de estrada que percorria, lembra-se de ter comentado isso mesmo e dos dois se terem rido muito. Lembra-se de não estarem a seguir o caminho que ela tinha indicado. Seria só um pequeno desvio, para lhe mostrar uma vista linda que ele conhecia, tinha garantido o homem da fivela de cabeça de urso.
Lembra-se de terem parado numa estação de serviço abandonada.
Lembra-se de como a barba do homem lhe picou a cara quando ele a mordeu nos lábios.
Lembra-se de como aqueles braços lhe desgrenharam a roupa e lhe forçaram a cara contra o banco de trás da pick-up.
Recorda a maneira como o cheiro a tabaco que forrava os bancos tomou contra dos seus sentidos. Como se entranhou na sua pele desprotegida enquanto era esfregada pelo couro velho dos assentos.
Recorda o chocalhar da fivela em forma de cabeça de urso e do como ela a mordiscava o interior das coxas – até então nunca sentira nada tão frio e impessoal…
Recorda – e ainda hoje o sente e as ouve – o peso do homem sobre o seu corpo e todas as palavras que a boca do sorriso fácil lhe ofegou aos ouvidos.
Não se recorda se foi ela ao tentar fugir ou ele por divertimento, mas o rádio foi ligado. Recorda-se da música que estava a passar e que os embalou aos dois no banco de trás daquela carrinha naquele quente noite de Verão.
Desde desse dia até hoje, o João-Pestana nunca mais lhe trouxe sonhos.

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