segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Wild World"



“But if you wanna leave, take good care
Hope you make a lot of nice friends out there
But just remember there's a lot of bad and beware
Lalalalala....

Baby, I love you”

As luzes do autocarro onde viajava era a única fonte de luz naquela estrada aquelas horas. Já era bem tarde, mas o sono não chegava, nunca tinha sido pessoa para dormir muito e já tinha descansado o suficiente para aguentar a viagem; fugir dos pesadelos já demasiado familiares, era outra excelente razão para não dormir. Eram cada vez mais intensos e mais pormenorizados… Receava que se os tivesse mais vezes acabaria por descobrir que na verdade eram algo mais que sonhos…
O autocarro que seguia para Praga partira, praticamente vazio, de Berlim. Não tinha embarcado por nenhuma razão em especial, tinha ouvido pessoas a comentar numa tasca que na República Checa havia bom trabalho e isso fora razão suficiente. Escolheu o último autocarro, porque gosta da noite.
Ao olhar para o negrume, perguntava-se como é que a sua vida se tornara nisto… Já fugia há tanto tempo que nem se recordava do quê ao certo. Viajava errantemente, a seguir opiniões e conselhos de desconhecidos.
Nunca ficar muito tempo no mesmo sítio. Não fazer amizades. Não ser mais substancial do que o sopro do vento.
Continuava a fitar o manto da noite pela janela do autocarro, este deslizava suavemente pelo alcatrão, quase que parecia levitar sobre ele.
Perguntava ao escuro se teria família, amigos, conhecidos, um lar que ansiava pelo seu retorno, um animal de estimação, algo mais sem ser o seu nome e a palavra “FUGIR” como modus operandi. Qualquer coisa!
Aos ouvidos chegou o som do rádio do motorista.
“Baby, I love you”. 
Mas não era o timbre do cantor que lhe dizia estas palavras.
“Amaste-me mesmo?” era o que pensava enquanto os últimos acordes se perdiam pelo autocarro com destino a Praga.

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