O Grupo

O Grupo existe. É um ser múltiplo e disforme, elitista e intolerante, egoísta e com um dantesco sentido de união.

Pena que essa união apenas é mantida pela exclusão.

Certa vez, ouvi esta frase num filme:

“Quando sorris, o mundo sorri contigo. Quando choras, choras sozinho.”

Penso que o Grupo viu o mesmo filme, ou pelo menos conhece a expressão muito bem.

Operam de acordo com um dogma de exclusão – como tinha dito -, mas não são os elementos discordantes do grupo que são excluídos – oh, não – o que o Grupo escolhe excluir é bem pior…

Excluem sentimentos.

A pessoa pode continuar a ser parte do Grupo, mas se os seus problemas “causarem mau ambiente para o Grupo”, eles não podem ficar; são enfiados numa carrinha genérica, levados para um armazém nas docas e aí são disfarçados.

Um pouco de base para te mascarar a raiva, a inveja, a tristeza e outros sentimentos que trazem cores características ao rosto, umas piadas idiotas aqui e ali para ver que está tudo bem e que ainda há mais razões para estar feliz, um corrector de olheiras para esconder as horas que perdeste a virar e revirar na cama, ao deitares-te, adormeceres e acordares com os teus problemas e por fim, uma venda, do mais lindo cetim, para os olhos de todos, para ficarmos a ver exactamente o mesmo.

E pronto, tudo está bem.

Não, não está.

E eu não preciso de usar nenhuma base.

Eu não quero contar nenhumas piadas idiotas.

O corrector só me faz alergias.

Os meus olhos – por muito cansados que estejam – recuso a fechá-los.

Quais são as opções que me restam?

Lutar contra o Grupo? Não.

É uma batalha que não merece ser ganha. Separados do Grupo, os elementos até podiam ser meus colegas. No Grupo, são uma entidade que eu não consigo compreender.

Ficar? Não.

Prefiro ser eu – um simples indivíduo – completo e só, mas livre daquela máscara patética…

Que vou fazer? Não sei.

A pessoa do filme optou por sorrir, mesmo estando tão miserável quanto seria possível imaginar…

Eu não sou a pessoa do filme.

Aposto que sorrir tanto acabaria por magoar… Um bocadinho ao princípio, mais do dia seguinte e mais e mais e mais, até que pararia de doer, quando esse sorriso falso se tornar permanente, os músculos da cara ficam adormecidos, dormentes, paralisados nessa careta idiota.

Bom, eu não vou fingir.