quinta-feira, 3 de março de 2011

"Sem dor não há sentimento"


Gosto de treinar.
Gosto de fazer exercício físico. Deve ter sido iniciado com um trauma da minha infância, depois tornou-se numa obrigação e agora, um década depois do trauma, uma maneira de enfrentar os meus problemas.
Sempre que me sinto em baixo, pego no meu saco, nos meus calções outrora calças, na minha t-shirt outrora branca, nas minhas luvas outrora inteiras e vou até ao ginásio mais próximo.

Começo com um aquecimento, esforçando os meus joelhos fracos demasiado, depois continuo com o peito e vou descendo até à ponta dos pés, voltando a massacrar os joelhos e as pernas.
Em cada repetição do exercício, escolho um peso que sei que me vai custar aguentar.

Faço-o de propósito.

Quero castigar o meu coração apaixonado; "Andaste-me a fazer sofrer o dia todo, agora é a tua vez."
Não demora muito até ficar a bater que nem um louco, sentado numa máquina qualquer, oiço-o ressoar fortemente contra o meu peito, pede-me misericórdia.
Eu não a dou.
Esforço-o mais um bocado, porque sei o que vem a seguir.
Clareza. Lucidez. Paz.
Está tão ocupado a manter-me consciente, a lutar contra os meus problemas de tensão e respiratórios que o meu cérebro não tem memória para pensar em mais nada.

Silêncio.

Todas as preocupações desaparecem, assim como todos os problemas. Só resto eu e o meu coração, em harmonia no meio do cansaço.
As lágrimas tristes confundem-se com o suor que me cobre e ninguém, para além de mim, consegue distinguir um grito de frustração dum de esforço.
Agora já posso acabar o treino. Só me resta fazer as pazes com o meu coração, oferecer um bom jantar ao meu corpo e aproveitar esta anestesia e deixar-me cair num sono sem sonhos.

"Descansa bem, amanhã treinamos outra vez."







Imagens por: kanikey e vampireluv8

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