quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"O Fado da Procura"

 

“Mas porque é que a gente não se encontra
No largo da bica fui-te procurar
Campo de cebolas e eu sem te encontrar
Eu fui mesmo até à casa do fado
Mas tu não estavas em nenhum lado
Mas porque é que a gente não se encontra
Mas porque é que a gente não se encontra”


“É hoje.” Dizia a Mónica para si, em tom de prece, antes de sair de casa.
Não tinha sido ontem, nem a semana passada, nem tão pouco há oito meses atrás, na verdade, há anos que não era…
Há anos que ela repetia o mesmo ritual: sair de casa ao final da tarde e percorrer as ruas por onde inúmeras vezes passearam de mãos dadas, seguir até ao café ao pé da fonte, aquele em frente à rua que desce para o cais e encontrá-lo lá para um café.
Era por ele que esperava, era pelo abraço dele que o seu coração se apertava e era por ele que ela tinha de ser forte.
Mas hoje, sentada na esplanada, não se sentia forte… A ansiedade já há muito que se transformara em saudade e esta por sua vez já evoluíra para desespero.
Ela sabia que ele não tinha cometido os crimes que levaram ao seu exilo.
“Voltarei para ti, prometo!”
Tinham sido aqueles cães, que mesmo antes de o navio desaparecer no horizonte já a cercavam como cães à volta dum naco de carne.
“Cães nojentos, quando o meu lobo voltar vai partir o focinho a cada um de vocês, esperem e verão.”
Dizia-o apenas para si e sabia que era verdade e isso dava-lhe força, assim como os avanços nojentos dessas criaturas; mas ninguém é de ferro.
Costumava sair de casa e ir à procura dele pela cidade, como se os dois estivessem a jogar às escondidas como duas crianças, tinha até ao pôr-do-sol para o descobrir se não ele desaparecia até ao próximo dia. Mas este jogo que inventara já a cansava, doía-lhe caminhar pela cidade e ver as amigas ou até mesmo desconhecidos a partilhar carícias de amor. Carícias que foram arrancadas do seu regaço.
A ideia de seguir em frente, de ceder, de abdicar do seu amor começava a surgir na sua mente de maneira cada vez mais persistente. Desistir já lhe parecia a realidade mais certa. Tinha vivido momentos de sonho com ele, mas todos os sonhos têm de chegar ao fim…
Lágrimas surgiram a rodear os seus olhos verdes; duas safiras brilhantes no fundo de um poço de mágoas.
“Todos os sonhos têm um fim, não é?”
A resposta veio no som da sereia dum navio que se preparava para atracar.
Mónica respirou fundo e ergueu os olhos para o navio que se aproximava. Ostentando as suas lágrimas como um tesouro, virou-se para o empregado e falou-lhe num tom orgulhoso:
“Dois cafés, se faz favor.”

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